O gigante burro

Oitavas LA

Imagem do GE.COM

Uma Copa se vence nos detalhes. Com boas doses de qualidade técnica, é claro, mas com muito mais do que isso. Uma Copa exige pequenos cuidados. Do avião fretado em momentos pontuais à fuga estratégica de um foguetório no hotel. É preciso de elenco, variação tática, logística, torcida… E sorte. A famosa “sorte de campeão”. É preciso estar preparado para recebê-la, sendo competente em todos os quesitos supracitados, ou ela será inútil.

E a sorte se dá de muitas formas. A bola na trave no último minuto, os desfalques do adversário, o erro estúpido do centroavante deles e por aí vai. Muitas vezes a sorte já começa no sorteio da Libertadores: nosso Grupo da Morte que o diga. E essa sorte na definição dos confrontos continua decisiva na fase de mata-mata. Campanhas impecáveis não garantem adversários frágeis. Campanhas sofríveis não são sinônimos de pedreiras apavorantes.

O Grêmio se deu muito mal no sorteio da Libertadores. Caiu num grupo cascudo. Os argentinos do Newell’s Old Boys, pra mim um dos melhores times da competição, acabaram pagando o preço pela falta de sorte. O próprio Nacional de Montevidéu, saco de pancadas do grupo, provavelmente teria se classificado em outras chaves. Dois clubes respeitáveis estavam, de largada, fadados ao fracasso prematuro. Só tinha vaga pra dois.

E mesmo sem essa sorte inicial, o Grêmio se mostrou GIGANTE. Fez uma primeira fase irretocável e, não só PASSEOU no Grupo da Morte como ainda garantiu segundo lugar GERAL na tabela da Libertadores. Baita campanha. Empolgante até. E aí vem a segunda fase, os mata-matas. Tricolor garantido em primeiro do grupo, garantido com uma boa colocação geral, garantido como mandante nos duelos decisivos contra quase todos os clubes da competição. Tudo isso é mérito. Eis que o fator sorte entra em campo novamente: quem vamos pegar daqui pra frente?

Porém, antes desses duelos serem definidos, uma pequena sorte já entrou em campo jogando a nosso favor: Grêmio tinha último jogo da rodada. Ia jogar sabendo o que precisava fazer para pegar o time e o chaveamento que lhe fosse mais conveniente. Claro que a derrota estava fora de questão, pois deixaria até mesmo a primeira colocação no grupo ameaçada. Mas empate e vitória já significariam destinos diferentes para o Tricolor.

O Grêmio pareceu jogar com o sangue morno. Com o espírito de quem já está classificado e numa posição cômoda. Nada condenável, pelo contrário, bem compreensível. Aí surgiu um pênalti. Barcos bateu muito mal. Até desconfiei daquela cobrança. Mas foi gol, festa na Arena. Aí o tempo foi passando e os jogos paralelos iam se decidindo. Eis que vira oficial: vitória significa pegar o San Lorenzo. Empate significa pegar o Lanús. Ambos argentinos. Nesse momento o Nacional cresce no jogo. Achei conveniente.

Eu, particularmente, acho o Lanús mais fácil. San Lorenzo é pedreira, fumaceira. Mas o pior não é isso, ainda tem as quartas-de-final. Empatando ontem na Arena e passando pelo Lanús, pegaríamos León ou Bolívar na sequência. Como ganhamos, temos que passar pelo time do Papa para enfrentar Cerro Porteño ou CRUZEIRO, o grande favorito dessa Libertadores. Sinceramente, eu teria empatado. O Grêmio até deu a entender que tava se insinuando para o gol do Nacional, mas na Hora H se defendia. Aí ameaçava golear os uruguaios e na hora de finalizar perdia gols bisonhos. Não amassou, tampouco entregou. Não entendi. Fez um golzinho xoxo e se resguardou, garantindo presença no chaveamento mais difícil possível. Não concordei.

Ah, mas o Grêmio tem que ganhar sempre“. Inclusive contra o Flamengo em 2009, dando o título do Brasileiro ao Inter? Se você acha que sim, pode parar de ler aqui. Não entraremos num acordo. Somos torcedores com pensamentos muito distintos.

Ah, mas quem quer ser campeão não escolhe adversário“. Maior balela já repetida pela humanidade. Cansei de ver time campeão que só pegou baba. Canecos que caíram no colo de alguns times. Equipes campeãs que se tivessem pego UMA pedreirinha no caminho já teriam dado adeus à competição. É o fator sorte dando as cartas. Em 2007 eu torci DESESPERADAMENTE pelo Cúcuta naquela semifinal contra o Boca Juniors. Alguns gremistas me repreendiam: “quem quer ser campeão não escolhe adversário“. Ou, outra genialidade ainda melhor: “ganhar do Boca vai ser mais lindo ainda“. Ok. Estou até agora esperando esse Tri-América, que poderia ter sido no ano seguinte ao primeiro trunfo colorado.

Se der pra evitar adversários melhores, QUE SE EVITE. Claro que o Grêmio pode ganhar do San Lorenzo e do Cruzeiro. Claro que o próprio Cerro Porteño pode ganhar do Cruzeiro. Claro que poderíamos perder pro Lanús. Tudo pode acontecer. Mas falo em probabilidades. Dois gigantes se enfrentando protagonizam um duelo imprevisível. Um gigante contra um médio ou pequeno tem ampla vantagem. E acho que o Grêmio foi “burro” ao deixar essa “vantagem teórica” escoar pelo ralo. Pegar adversários potencialmente mais fracos é sorte sim. E essa estava em nossas mãos.

Agora vai ser pedreira até o fim. Fomos burros. Tínhamos a faca e o queijo na mão e ignoramos tamanho controle da situação. Porém, somos gigantes. A América deve estar apavorada com o Grêmio. San Lorenzo deve estar clamando pela presença do Papa no estádio. Patrolamos no grupo mais difícil que havia. Fomos GIGANTESCOS. Estamos sendo. Podemos continuar sendo. É isso que me serve de consolo.

Sempre foi contra tudo e contra todos. Que seja contra o Papa. Eu acredito no Tri. Ainda que meio burrinho, somos um gigante.

Pra dentro deles.

 

Saudações azuis, pretas e brancas,

Lucas von.

Um Comentário

  1. Eder

    Esqueceste o RE-CHAVEAMENTO passando Grêmio ou Cruzeiro tem mais o Atlético MG que seria reajustado para evitar uma possível final de mesmo país.

  2. Alexandre

    Ontem na Arena nem me liguei nos resultados paralelos, agora dá pra entender a falta de vontade de marcar o gol. Aquela do Barcos sem goleiro foi o fim da várzea. Mas deveriam ter facilitado mais para o Nacional.
    Em 2007 foi uma partida mais linda que a outra, Grêmio superando São Paulo, Santos, Defensor nos pênaltis. “Fator casa” em todas as fases. Realmente parecia que o torcedor no monumental era um 12° jogador, não tinha pra ninguém naquela Libertadores, até que veio um tal de Boca Juniors com três gols de vantagem. Depois disso, é obrigação de qualquer torcedor sensato torcer para que os adversários do Grêmio sejam barbadas, pelo menos até acabar o jejum.

  3. Douglas

    Lucas, sou cruzeirense e sempre acompanhei os seus textos no blog (apesar de não ser gremista, acompanho os textos relacionados aos times adversários). Onde assino, concordei em 100% o seu texto. Se pudesse escolher entre enfrentar o Grêmio ou o Bolivar nas quartas pode ter certeza, escolheria o time boliviano. Por um motivo, encontro de dois times brasileiros, acostumados com libertadores é imprevisível.

    Como o Grêmio foi muito mais competente que o meu Cruzeiro (torcedor tem mania de se achar dono do time), na primeira fase, tinha o luxo de escolher o seu caminho (como o Bernadinho faz com a seleção de Volley do Brasil, apenas de ser a melhor equipe) e isso seria um bônus pelo acúmulo de pontos, ao contrário do meu time, que por sua vez não tinha esse privilégio.

    Em suma, acho que o Grêmio não utilizou ou melhor desperdiçou a principal vantagem de estar classificada a uma rodada de antecedência, a saber, A POSSIBILIDADE DE ESTABELECER O CAMINHO PARA A FORMAÇÃO DO CHAVEAMENTO NAS PRÓXIMAS FASES. Para finalizar, isso não quer dizer que o Grêmio, Cruzeiro estarão desclassificados, mas que o caminho se tornou mais árduo, não tenho dúvidas.

    Saudações….e se quiser aparecer por estas bandas, seja bem vindo.

  4. Jakson

    Para o Grêmio lavar a alma no ano de 2014:
    Vai para o Grupo da Morte e acaba com todos;
    Depois disso extermina os pseudos-campeões:
    começando pelo atual campeão gaúcho no domingo;
    depois acaba com o campeão Argentino; San Lourenzo
    depois acaba com o campeão Brasileiro; Cruzeiro
    depois acaba com o campeão da Libertadores; Atlético-Mg (pelo cruzamento obrigatório na semi)
    depois acaba com o campeão Mexicano; Leon
    depois acaba com o campeão mundial. Bayern de Munique
    e após isso, tudo volta a normalidade: o Grêmio sendo o verdadeiro Campeão.

  5. Marcelo Valduga

    O que dizer do ano passado em que o Grêmio teve a segunda pior campanha e mesmo assim pegou o Santa Fé,time desconhecido e sem tradição alguma.O que aconteceu? Acho que o San Lorenzo e o Cruzeiro ou Cerro tem que ter medo do Grêmio.Só nós que temos que ter medo dos outros??

  6. Fabiano Moraes

    Baita texto, foi bem assim mesmo, assino em baixo, mesmo sendo um dos “Gênios” que torciam e achavam que ser Campeão em cima do Boca em 2007 seria muuuuito mais grandioso, estava no Olímpico naquela final com esperanças de virar contra eles até QUASE o ultimo momento.

  7. Gustavo Barros

    Nossa temos um GREMISTA PROFETA!!! “A maior balela repetida pela humanidade“ A humanidade está enganada e tu correto, guri? No mínimo uma baita pretensão. Guri, time que quer ser campeão, NUNCAPODE ESCOLHER ADVERSÁRIO!!! Cara isso é básico!!!

  8. douglas junior bedin

    ta certo a gente pode nem passa do san lorenzo COMO VAMOS PASSA! eu n minha opniao acho sinceramente q o cruzero pede arrego pro cerro, ta certo tem o melhor time e sao favoritos mais oq vem apresentando acho q n! ainda mais decidindo na casa do cerro do geito q eh a defesa do cruzero levao um gol em casa e o cerro decide em casa!

  9. Rafael

    Ai você percebe a diferença do texto do Lele pro texto do Lucas. Com todo respeito Lele, fica la só na bancada mesmo kkkkk

  10. Vitor Kern

    Ano passado todo mundo ficou feliz que o Grêmio se livrou de pegar o Nacional nas oitavas pra pegar o “fraco” Santa Fé e fomos eliminados, o Grêmio já passou da sorte ela já nos largou depois de tantas decisões fracassadas, agora é só com o Grêmio e não tem que escolher, tem que jogar pra ganhar SEMPRE

  11. Pedro

    Ahh.. AGORA ENTENDI O SENTIDO DA PALAVRA CAGÃO que tanto tu dizia. Ser cagão é ter medo dos mais fortes, certo?

Deixe um comentário